sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

"Há grandes lapsos de memória, Grandes paralelas perdidas, E muita lenda e muita história, E muitas vidas, muitas vidas". Fernando Pessoa

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

MARIA BEZERRA - UMA GUERREIRA

Filha de Francisco Tibúrcio de Medeiros (1898 – 1933) e Altina Regina Bezerra de Medeiros (1902 – 1941) e irmã de Manoel (“Teté”), Dionizio (“Didizo”), Rubens (“Rubinho”), Luiz, Antonia (“Toinha”), Franciscas das Chagas (“Chaguinha”) e Vicente, este último do segundo casamento de sua mãe . Sobrinha de Antonio Lino de Medeiros (Antonio Boieiro), Vicente Faustino de Medeiros (Vicente “Queixinho”), Júlio Faustino de Medeiros, Raimundo Faustino de Medeiros (Raimundão), Antonio Tonico de Medeiros, Vicência e Luzia Maria da Conceição (“Bibi”), Antonio Faustino de Medeiros, Maria Faustino de Medeiros e Maria Isabel. Neta pelo lado paterno, de Francisco Faustino de Medeiros e Francisca Maria da Conceição e pelo materno, de Antonio José de Castro e Regina Maria Bezerra, todos nascidos e moradores na cidade de Mossoró, Maria Bezerra da Silva nasceu em Martins-RN, no dia 31 de janeiro de 1931. Naquela ocasião, os seus pais trabalhavam e moravam num pequeno sítio de propriedade de Pedro Barbosa, situado no alto da Serra do Martins, a 750 metros acima do nível do mar, em pleno semi-árido, na região do Alto Oeste do Rio Grande do Norte, cidade serrana "povoada e rica, prestigiosa e acolhedora, desenvolvida num clima de bem-estar e fartura” que ocultava os fugitivos, abrigava os perseguidos, curava os doentes como escreveu Camara Cascudo. Foi batizada naquela cidade e com o retorno da familia, passou a residir em Mossoró. Enquanto a mãe era viva, Maria chegou a estudar no colégio das freiras em Mossoró, com os estudos pagos pelos seus padrinhos de batismo, Rita e José Cosme, que moravam próximo à ponte do Rio Mossoró. Com a morte da mãe, deixou de estudar e foi levada para morar na companhia do tio paterno Antonio Faustino, agricultor abastado conhecido como Antonio Boieiro, casado com Luiza, que tinham três filhos – Maria, Martinha e Damião. Esse tio residia em Santana, distrito de Mossoró, de onde se originou toda a família. Levou em sua companhia, a irmã mais nova Francisca das Chagas, apelidada carinhosamente de Chaguinha, que já apresentava problemas da audição e, consequentemente, da fala. Naquela casa – apesar de serem todos familiares do mesmo sangue, não foi bem tratada. Era apenas uma auxilar da casa. Ali sofreu maltratos que variaram dos empurrões às pancadas com baldes de leite. O sentimento que imperava entre os proprietários da casa, não era exatamente, de amor pelas duas meninas órfãs, indefesas; elas não tinham – naquele local – quem as defendesse e protegesse da rejeição que sofriam por parte daqueles parentes. Residiu com aquela família, apenas alguns meses, com certeza menos de um ano, sofrendo a falta da mãe e o pouco caso dos tios. Tomando conhecimento do sofrimento que as duas irmãs estavam passando, o irmão Rubens foi buscá-las e levou-as para morar com a irmã Antonia, numa casa vizinha à Maria Salvina, uma grande amiga da mãe deles. Maria Salvina era casada com Vicente Correia e mãe de Aldenora, Carmélia, Maria de Lourdes, Bitola, Manu além de uma enteada por nome de Cristina, a quem as filhas de Altina – Toinha, Maria e Chaguinha - tomaram como madrinha e apelidaram-na, carinhosamente, de Mastina. E foi na casa da madrinha Cristina, localizada no Alto de São Manoel, próximo ao primeiro bueiro, que Maria foi morar, juntamente com Chaguinha e Toinha. Com a intervenção da irmã Antonia (Toinha), Maria voltou a estudar no Colégio das freiras, juntamente com Chaguinha, agora no Patronato das meninas pobres, onde ajudava na limpeza do estabelecimento para ter direito aos estudos. Nessa época tinha entre 12 e 13 anos de idade. Passava a semana no colégio, e nos finais de semana, levando consigo a irmã Chaguinha, ia para a casa da madrinha Cristina, para organizar a roupa, visitar os irmãos e rever as amigas. Quando se encontrava estudando no referido Patronato, Maria reencontrou num certo dia, a freira Irmã Açucena que fora sua professora quando a mãe Altina ainda era viva. Na ocasião a referida freira que se encontrava em visita ao colégio, perguntou-lhe se queria morar e estudar num colégio em que ela era a diretora. Por já ter convivido com a Irmã Açucena, o convite parecia ser uma dádiva do céu e, prontamente foi aceito, indo Maria e Francisca das Chagas (Chaguinha) para um orfanato que tinha sede na cidade de Martins, no alto da serra do mesmo nome. Naquele local distante, passaram sete meses em meio a muitas dificuldades, principalmente as relacionadas com alimentação, que era muito precária e cujo prato diário consistia de feijão e angu. Levado a Martins para realizar trabalho de sua profissão, Manoel Maia, conhecido pelo apelido de Manú (filho do comerciante Idalino Viriato) então noivo de Antonia–, resolveu visitar as cunhadas a pedido da irmã, para delas levar alguma notícia. Não as localizou no orfanato, mas num sítio das freiras encravado na descida da serra. Ali, numa conversa reservada e longe das freiras, tomou conhecimento da situação das meninas Maria e Chaguinha, e delas ouviu que queriam voltar para Mossoró. Não podendo decidir sobre a situação apresentada, retornou a Mossoró e conversou com a noiva Toinha, que em contato com Vicente Leite, Escrivão do Cartório de Mossoró, diligenciou e conseguiu que as irmãs retornassem a Mossoró, acompanhadas por um funcionário do orfanato. É importante ressaltar que Vicente Leite era casado com Delva, uma das irmãs da família que criou Altina, mãe de Maria Bezerra. No retorno a Mossoró, Maria e a irmã Chaguinha voltaram a morar na casa de Maria Salvina, junto com os irmãos Antonia e Rubens. Casou-se em Mossoró na Igreja do Coração de Jesus, aos 19 anos, no dia 31 de dezembro de 1950, com Aldemar Rodrigues da Silva, filho de João Rodrigues da Silva e Maria Camila da Silva, nascido em São Rafael – RN, no dia 17 de março de 1921 e falecido no dia 24 de junho de 1997, no Rio de Janeiro, estando sepultado no Cemitério de Nova Iguaçu-RJ Após o casamento, Maria e seu marido foram morar em Natal, inicialmente na Rua Silvio Pélico, na Guarita, proximidades da Base Naval e depois na Rua Amaro Barreto, onde Aldemar possuia uma pequena fábrica de sapatos que funcionava nos fundos da residência e uma loja de calçados – Sapataria Rodrigues, localizada no Mercado Público da Cidade Alta. Nesse período, passou a morar com Maria o seu irmão mais novo, de nome Vicente, filho do segundo casamento de sua mãe Altina com o agricultor Francisco Epifanio de Melo. As dificuldades da época, resultantes em parte do incêndio do mercado da Cidade Alta que destruiu todas as lojas e mercadorias existentes no local, foram decisivas para o casal que resolveu tentar a vida em Mossoró. Nesse retorno foram morar no Bairro dos Paredões, na Rua Marechal Deodoro e depois na Av. Alberto Maranhão, vizinho à residência de Germano Caenga, proprietário de armazém de sal. A mudança não atendeu à expectativa do casal que mais uma vez resolveu mudar, agora para Fortaleza, deixando Mossoró antes de completar um ano de residência. De Fortaleza, Maria seguiu com o marido e os filhos para o Rio de Janeiro, fixando residência, inicialmente, na cidade de Duque de Caxias, depois no bairro do Méier, no Rio de Janeiro. Em 1972 passou a residir no bairro de Bangu, do Rio de Janeiro, onde comprou um pequeno apartamento. Após desentendimentos, Maria separou-se do marido Aldemar, de quem veio a se divorciar anos depois, assumindo a criação e manutenção dos filhos. Trabalhou nas firmas Basílio & Cia (empreendimento imobiliário em Copacabana), Soares Lavrador (empresa que fornecia alimentação aos estabelecimentos hospitalares), Hospital Gama Filho (Piedade- RJ), GR do Brasil (empresa de alimentação industrial) e Rioforte (empresa de serviços de segurança e vigilancia). De todas as empresas em que trabalhou, Maria permaneceu mais tempo na Soares Lavrador, perfazendo um total de 12 anos. Paralelamente ao emprego, Maria ainda costurava em casa, para complementar o salário e assim, manter a familia. Após implementar o tempo de serviço necessário, Maria se aposentou na década de 80 pelo INSS, passando a dedicar-se aos pequenos serviços de costura que já fazia como “bico”. Depois de alguns anos, vendo-se sem saúde suficiente, deixou os serviços de costura e passou a viver exclusivamente da aposentadoria, passando a contar com a ajuda das filhas Lucielma e Lucinete. Já aposentada, trouxe para morar em sua companhia, o neto Rafael, filho de Lucimar, que passou a viver, inteiramente, sob a sua guarda e responsabilidade desde a mais tenra idade, arcando ela com todas as despesas de educação, alimentação e vestuário, vez que a mãe não lhe deixou pensão previdenciária. O referido neto lhe serviu de companhia até os ultimos dias de vida. Logo após o casamento com Aldemar, aceitou o Evangelho Cristão congregando na Assembléia de Deus, inicialmente em Natal, depois em Mossoró e Fortaleza . No Rio de Janeiro passou a congregar na Igreja Adventista da Promessa, de onde se afastou logo após a separação do marido, que veio a falecer na década de 90. Já residindo em Bangú e aposentada, voltou a frequentar a Igreja Adventista, nela permanecendo até a sua morte. Faleceu em 02/03/2007 aos 76 anos, em decorrencia de problemas cardíacos, sendo sepultada no Cemitério do Murundu, em Realengo no Rio de Janeiro Do seu casamento com Aldemar Rodrigues da Silva teve os seguintes filhos: 1. JOÃO RODRIGUES DA SILVA NETO nascido em 10 de agosto de 1951 em Mossoró. Em razão da saúde debilitada, faleceu em outubro do mesmo ano, com tres meses de vida. 2. LUCIMAR BEZERRA DA SILVA nascida em Mossoró, no dia 15 de agosto de 1951 e falecida no Rio de Janeiro no dia 11 de agosto de 2000. Trabalhou durante alguns anos no grupo empresarial Coroa-Brastel no Rio de Janeiro, do financista Assis Paim Cunha, pivô do maior escândalo financeiro ocorrido no país, na década de 80 e que levou à ruína não só a empresa, como também 35 mil investidores e 12 mil empregados, entre os quais ela se encontrava. Trabalhou também na empresa Soares Lavrador e na Nestlé (em São Paulo); nos últimos anos, realizava serviços avulsos para o escrivão da Delegacia de Polícia da Barra da Tijuca. Era solteira e residia na Rua Cirne Maia, no Méier, tendo deixado um único filho, Raphael Bezerra da Silva, nascido no Rio de Janeiro no dia 28 de julho de 1988, que desde muito pequeno foi criado pela avó. 3. JASSONETE BEZERRA DA SILVA nascida em Natal e que faleceu aos dois meses e vinte e cinco dias de vida. 2. LUCIELMA BEZERRA DA SILVA nascida em Natal no dia 27 de julho de 1954. Com curso Técnico de Contabilidade, trabalhou durante 17 anos no Departamento de Importação da Rede Globo de Televisão, de onde saiu em 1995. Solteira e residente no bairro de Bangu, no Rio de Janeiro, tem uma filha – Danielle Bezerra Soares, nascida no Rio de Janeiro no dia 2 de dezembro de 1994, da união estável com Nelson Soares Ferreira. 3. JESSÉ RODRIGUES DA SILVA nascido em Natal no dia 23 de junho de 1956, aposentado pelo INSS em decorrência de acidente sofrido no transito do Rio de Janeiro, solteiro, residente em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na casa deixada como herança pelo pai. Vive uma união estável com Marly, não tendo filhos. 4. LUCINETE BEZERRA DA SILVA nascida em Mossoró no dia 16 de outubro de 1957, profissional da área , solteira, morando no imóvel deixado pela mãe, juntamente com o sobrinho Rafael.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O INVENTARIO DE ANTONIO DE MEDEIROS CORTE A constante troca de informações entre pesquisadores de genealogia tem permitido a muitos ampliar suas informações. E não tem sido diferente comigo, que tenho recebido muitos subsídios para a minha busca, como foi o caso do Inventário de Antonio de Medeiros Corte (ou Cortes) como querem alguns, o patriarca de um ramo da família Medeiros que povoou o Rio Grande do Norte. Sabia da existência do processo na Comarca de Caicó, porém tive dificuldades para obter informações sobre o mesmo. Depois de dois anos, descobri que o Laboratório de Documentação Histórica do campus da UFRN daquela cidade, havia feito um trabalho meticuloso de digitalização do acervo judicial da comarca, aí incluindo os processos de inventário. Esse trabalho realizado pelo pessoal do LABORDOC é de uma importância ímpar para a preservação da história da cidade de Caicó e do RN. Os profissionais que ali trabalham, não se preocupam apenas com a disseminação, mas principalmente com a restauração e a preservação em formato mais moderno e acessível. E foi graças a esse trabalho cuidadoso do pessoal do LABORDOC que tive acesso ao inventário de Antonio de Medeiros Corte, com autuação em 1786. É evidente que algumas informações se perderam com a deterioração do papel durante os duzentos anos decorridos, com armazenamento inadequado e o manuseio sem os cuidados reservados ao papel antigo, mas tudo isso foi ultrapassado pela dedicação dos profissionais do Laboratório, que adotou todos os procedimentos necessários para a restauração dos inúmeros processos que receberam, e ao final procederam à digitalização, oferecendo à comunidade e aos pesquisadores, material que permite inúmeras linhas de pesquisa. Com o mesmo sentimento de partilha, passei o arquivo para outro pesquisador de Areia Branca- o Gibran que dividiu comigo a leitura do texto e que está à disposição de quem tiver interesse em conhecer os termos do citado inventário.